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Apelidada por alguns de 'prima da dengue', a Febre Chikungunya ainda é um mistério e desafia autoridades de saúde no Estado. O drama reside no tratamento das dores agudas nas articulações, que podem persistir por mais de um ano, e nas condições de o sistema de saúde pública, já sobrecarregado, absorver a assistência de pacientes por tão longo período.
A doença, como as próprias autoridades confirmam, é assustadora e pode impedir a vítima de executar tarefas simples, como digitar no celular ou lavar uma louça. Para piorar a situação, as dores podem durar mais de um ano e deixar sequelas. Ao mesmo tempo, não foi definido tratamento padrão e a medicação dependerá de avaliação de especialistas.
"A Chikungunya é mais complicada que é dengue, da mesma forma, ataca todas as juntas, mas as dores nas articulações são muito fortes e, às vezes, até impossibilitam a vítima de andar, de executar tarefas simples, porque as mãos ficam em forma de garras e há risco de sequelas", detalhou a diretora-geral de Vigilância de Saúde da SES (Secretaria Estadual de Saúde), Bernardete Lewandowski.
Diante dos sintomas assustadores, ela admite que não há, por enquanto, uma estratégia definida sobre como agir para ajudar os pacientes. A dificuldade começa ainda no diagnóstico da doença. Por enquanto, apenas um laboratório de Belém do Pará realiza o exame e demora cerca de 15 dias para dar o resultado.
Enquanto isso, a orientação é tratar da mesma forma que a dengue, com paracetamol, dipirona e muita hidratação. "Com a confirmação do diagnóstico, será preciso a avaliação de um médico reumatologista para indicar antiflamatórios e remédios mais fortes para combater as dores. O que não pode é se automedicar", frisou Bernardete.
Rede preparada? Questionada se a rede está preparada para oferecer atendimento de especialistas e medicação por até um ano, ela frisou que não dá para prever o que ainda não aconteceu. "Não tem como estocar, por exemplo, cortisona, vai depender da avaliação dos médicos, não sabemos o que vai acontecer, ainda não temos nada voltado (para o tratamento da Chikungunya)", disse.
Nem do Ministério da Saúde partiu orientação, segundo Bernardete. Por outro lado, ela destacou que, em breve, o Estado fará exames para diagnosticar a doença. "Estamos com a pessoa capacitada e esperando antígeno para começar a fazer a análise aqui. O ministério nos prometeu o material para este mês de novembro", ressaltou.
Outra ação é intensificar o combate ao mosquito transmissor, o mesmo da dengue e que existe nos 79 municípios do Estado. "A população precisa ajudar a eliminar o criadouro", apelou Bernardete. Para reforçar a necessidade, equipes da SES percorrem Mato Grosso do Sul. "Fomos a Bonito e temos ações previstas em Corumbá, Três Lagoas e Dourados", acrescentou. No dia 6 de dezembro, também está previsto movimento nacional, conhecido como o "Dia D".
Na Capital, que, até agora, registrou 10 notificações de Chikungunya, dos quais confirmou um caso, descartou dois e investiga sete, também não há um plano elaborado de ação. Titular da Sesau (Secretaria Municipal de Saúde), Jamal Salem destacou a aquisição de 150 motocicletas para reforçar as ações de fumacê.
Indagado se a rede está preparada para tratar eventuais vítimas, ele não revelou novas ações. "Nas UPAs (Unidades de Pronto-Atendimento) temos de 10 a 12 médicos de plantão, ações preventivas, além disso, campanhas de orientação e estamos trabalhando para eliminar os mosquitos", resumiu.
Estrangulada - O médico infectologista Rivaldo Venâncio não esconde a preocupação com a capacidade de a rede de saúde pública absorver doentes por tão longo período. "Temos uma rede que está estrangulada, não tenho dúvida que os profissionais são capazes, eles têm experiência com dengue, o problema é o número de pessoas que vão ficar dependente da rede por um tempoprolongado", alertou.
Segundo ele, em uma das epidemias estudadas, em uma ilha, 70% das pessoas que desenvolveram Chikungunya acabaram cronificadas. "É claro que aqui no Brasil ainda não dá para saber. O agravante da ilha é que muitos aposentados residiam lá, aqui a média de idade é menor", ponderou.
O alívio, conforme previsão do médico, é a indicação de que, pelo menos neste ano, não há expectativa de epidemia. "Não acredito em epidemia neste verão", afirmou. "Quando o mosquito entra em uma área são necessários alguns meses para se multiplicar e causar uma epidemia", explicou. Até agora, 12 casos suspeitos da doença foram notificados no Estado.
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